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Óleo essencial de árvore do chá “reverte” todo o tipo de acne?

25 Abr 2024 - 08:00
falso

Óleo essencial de árvore do chá “reverte” todo o tipo de acne?

Num vídeo partilhado no TikTok alega-se que o óleo essencial de árvore do chá “reverte toda a acne em 512%”. Mas será que esta alegação é sustentada por evidência científica? E é seguro aplicar este óleo numa pele com tendência acneica?

Todas as dúvidas são esclarecidas, em declarações ao Viral, por Margarida Gonçalo, diretora do serviço de dermatologia da Unidade de Saúde Local de Coimbra, professora e subdiretora da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) e secretária-geral da Academia Europeia de Dermatologia e Venereologia (EADV, na sigla inglesa).

Está provado que o óleo essencial de árvore do chá reverte todo o tipo de acne? 

Margarida Gonçalo começa por explicar que “o óleo essencial de árvore do chá, também conhecido como tea tree oil, ou óleo essencial de Melaleuca alternifolia”, é utilizado há muito tempo na patologia cutânea, “sobretudo pelos aborígenes da Austrália”.

No entanto, frisa a médica, “não há dados científicos que comprovem a sua eficácia na acne, muito menos em todas as formas de acne”.

Segundo a dermatologista, tem-se verificado que o óleo essencial de árvore do chá tem “um efeito contra vários microrganismos que podem colonizar a pele”. 

Contudo, “a capacidade anti-inflamatória e antioxidante” tem sido “demonstrada sobretudo em sistemas in vitro (culturas celulares)” (ver também aqui). 

Além disso, os (poucos) ensaios clínicos que existem “tendem a mostrar, apenas nas formas ligeiras a moderadas de acne, uma redução das lesões inflamatórias, sem efeito significativo nos comedões e quistos”, sustenta.

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Por isso, devido à escassez de evidência robusta, não é possível confirmar “a eficácia deste óleo essencial na acne”, defende Margarida Gonçalo. 

Inclusive, uma revisão realizada por investigadores portugueses, publicada no ano passado, teve como objetivo perceber se este óleo essencial é eficaz e seguro no tratamento da acne.

Chegou-se à conclusão que, de facto, “o óleo da árvore do chá tem boas propriedades antibacterianas, anti-inflamatórias e antioxidantes que resultam numa diminuição do número de lesões inflamatórias, principalmente pápulas e pústulas”, refere-se no estudo. 

No entanto, salienta-se, “dada a diversidade de desenhos de estudo, não é possível tirar conclusões concretas sobre a eficácia e segurança deste óleo no tratamento da acne”.

É seguro utilizar óleo essencial de árvore do chá numa pele com tendência acneica?

Em primeiro lugar, caso se pretenda utilizar óleo de árvore do chá numa pele com acne, é importante que este seja aplicado “apenas onde há lesões, evitando as proximidades das pálpebras para evitar irritações”, adianta Margarida Gonçalo.

No que toca ao risco de reações adversas, segundo a dermatologista, “na maioria dos casos e usando formulações apropriadas, não há problemas da sua aplicação na pele normal ou acneica”. 

Aliás, quando este óleo é utilizado “em concentrações baixas e na forma de nanopartículas” ou incorporado em produtos próprios para a pele acneica, poderá “ser um complemento da terapêutica farmacológica anti-acneica ou, eventualmente, em formas muito ligeiras e inflamatórias de acne”. 

Contudo, “pode sempre haver, numa percentagem não desprezível, alergia de contacto ou irritação cutânea”, avisa a médica.

Por um lado, a utilização do óleo essencial de árvore do chá em doses maiores “pode ser irritante para a pele”, alerta.

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Este efeito pode potenciar-se “se a pele acneica for tratada com outros fármacos que têm um papel irritante (retinoides) ou que diminuem o filme lipídico e facilitam a irritação (isotretinoína)”, prossegue.

Tal como explica Margarida Gonçalo, “a irritação da pele manifesta-se com sensação de queimadura no local de aplicação” e, nas horas e/ou dias seguintes, surge “vermelhidão e descamação”.  

Nestes casos, ao fim de dias ou semanas de uso, “a pele fica vermelha e inchada”, a pessoa fica “com muita comichão” e “coberta de pequenas bolhas”, esclarece.

Segundo a dermatologista, estas lesões só conseguem ser resolvidas com cortisona.

Por outro lado, se houver “alergia de contacto ao óleo da árvore do chá”, não se pode voltar a usar este produto ou, por vezes, “outros óleos essenciais que tenham constituintes semelhantes”, adverte.

Como se trata a acne?

De acordo com um texto informativo da Academia Americana de Dermatologia (AAD, na sigla inglesa), “os objetivos do tratamento da acne” são “limpar a acne existente”, “impedir novas erupções” e “prevenir cicatrizes”.

Ainda assim, embora os objetivos sejam os mesmos para qualquer doente, “não existe um tratamento para a acne que sirva para todos”, salienta-se no mesmo texto.

Isto porque, explica Margarida Gonçalo, “a acne não é toda igual”. A dermatologista refere que “algumas formas muito ligeiras de acne vulgar podem resolver-se espontaneamente com a idade, mas outras necessitam de tratamentos”. 

O tratamento pode passar pela aplicação de “cremes essencialmente à base de retinoides, peróxido de benzoílo” e, às vezes, “antibióticos tópicos”.

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Ou, por outro lado, “nas formas mais graves, podem ser necessários antibióticos orais em doses baixas, mas de forma mais prolongada, um retinoide orientado para a acne (isotretinoína) ou tratamento com efeito hormonal”, expõe. 

A médica lembra que “as formas graves podem causar um grande impacto na qualidade de vida dos doentes e, se não forem tratadas, podem deixar cicatrizes definitivas no tronco e face”.

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25 Abr 2024 - 08:00

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